18 de abril de 2011

FMI - a minha opinião.

Em 1984, um ano depois da entrada do FMI em Portugal pela segunda vez, eu, um jovem de 14 anos, nascido e criado em Almada, filho dum operário da Lisnave, encontrava-me já há um ano a viver em Vila Nova de Milfontes, terra natal dos meus pais.
Nessa altura, em grande desespero, o meu Pai, um trabalhador incansável, aceitou uma "nojenta" reforma antecipada, pois estava há já 2 anos numa situação insustentável, continuando a trabalhar mas sem receber ordenado.
Voltou por isso à sua terra natal para trabalhar numa loja de materiais de construção dum dos meus tios, de forma a poder sustentar a famíia.
Se a memória não me atraiçoa, nos 2 últimos anos de trabalho na Lisnave o meu Pai recebeu 3 ou 4 ordenados.
Eu, que até ali tinha tido uma vida perfeitamente normal para um filho da classe média Portuguesa, vi-me, nesse fatídico ano de 1984, perante uma situação que me marcou profundamente e que moldou de forma inevitável o meu carácter e a minha forma de ver e pensar a sociedade.
Lembro-me como se fosse hoje, em pleno início do mês de Novembro, os ténis que usava com muita frequência ficaram com as solas de tal forma gastas que se romperam, ficando eu com o "dedão" a tocar no chão.
Queixei-me à minha Mãe que, lavada em lágrimas, prontamente me fez umas "palmilhas" de papelão, recortado duma caixa de sapatos e que me serviram para aguentar esses malditos ténis até ao final do mês, altura em que entrou mais um dinheirinho em casa e eu pude, finalmente, comprar uns ténis novos. Obviamente, dos mais baratos e sem serem de "marca".
Isto aconteceu há precisamente 27 anos. 
Há 20 anos que trabalho arduamente, sempre no sector bancário e, obviamente, por conta doutrem, o que equivale a dizer, sempre com os meus descontos feitos a tempos e horas, ou seja, sem contribuir para o degradante estado actual da nossa economia.
Sou hoje Pai dum jovem de 15 anos, feitos há 5 dias atrás, e não consigo conceber que o meu filho, por força da entrada do FMI em Portugal, tenha de passar por aquilo que eu passei.
É que não concebo mesmo !
E peço a todos os "santinhos" que isso não aconteça, porque a verdade é que o meu Pai, por uma questão de feitio e de personalidade, aguentou todas essas amarguras em silêncio e sem ripostar, de orelhas baixas e sempre vergado aos Srs. do poder.
Mas o filho do meu Pai tem outra forma de ser e de estar, se houver um filho da puta que me obrigue a fazer passar o meu filho pela situação que eu passei, está bem fodido está !
Amanhece no dia a seguir com mais 250 gramas de chumbo no bucho e eu arranjo forma de ter cama e roupa lavada até ao fim dos meus dias.

Está bem claro o meu apreço pelo FMI.

FILHOS DA PUTA !!!

6 comentários:

  1. Acolho a tua ira. Mas talvez esteja descentrada. Os filhos da puta estão cá há bem mais tempo. E no entanto...

    Fraco povo o nosso. lamento mas somos assim. A História não tem complacência com os fracos. Acho bem que sintas o que exprimes, em nome do teu filho (e do teu pai) mas sobretudo por ti!

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  2. Sinto a tua revolta que também é a minha porém parece-me que os filhos da puta estão cá e governam-se à nossa custa.
    É tempo de lhes mostrar que são estes políticos que não prestam. É tempo de lhes dizer basta.

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  3. Sabes Eduardo,

    Sou uma mulher de lágrima dificil, muito dificil, mas o teu texto fez o milagre!

    A tua dor e revolta fazem-me vergar a cabeça. De vergonha pelo povo que somos, de respeito pelos poucos Homens que, como tu, defendem uma vida melhor para os seus filhos, no fundo, para a sociedade em geral.

    Mas não há homens de fibra! Há homens e mulheres pequeninos, muito pequeninos.

    Queres maior prova do que os políticos que temos? Quem os elegeu? E aposto, mas aposto com a certeza quase absoluta de não me enganar, que nas próximas eleições vai ganhar o mesmo.

    Temos o que merecemos ou pagamos uns pelos outros?

    Todos temos a nossa quota parte de culpa, sem dúvida, mas a força dos interesses instalados é uma barreira muito difícil de transpor.

    Apenas te quero dizer: acredita que estou contigo!
    Beijinho.

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  4. Eduardo, Embora entenda a tua posição, partilho das posições aqui manifestadas de que boa parte do problema (para não dizer a totalidade) tem origem interna.
    E quanto a culpas - como bem sabes - não me fico somente pelos políticos, seria demasiado fácil!

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  5. Caros amigos M, Luís, Teresa e Paulo, bem sei que a origem da nossa situação é interna, e não é de agora.
    Vocês que me seguem aqui há algum tempo sabem bem quantas e quantas vezes me tenho insurgido contra a governação a que temos estado sujeitos.
    Este meu grito de revolta contra o FMI, e até a forma como aqui me expus, serve acima de tudo como chamada de atenção, em especial para muitos dos que durante muito tempo diziam "venha de lá o FMI que esses metem isto na linha".
    Coitados dos que assim pensam ... coitados.
    Da última vez que o FMI cá esteve as pessoas acabaram por nem se aperceber da tragédia que é recorrer a estes Agiotas.
    Pedimos auxílio em 1983 e os encerramentos de fábricas e a degradação das condições laborais começaram desde logo a sentir-se, só que, passados 2 anos (1985) a CEE entrou-nos porta adentro e com ela as "bateladas" de dinheiro em forma de subsídios, e com isso camuflou-se o garrote a que iamos estar sujeitos.
    Desta vez, não vislumbro nenhuma CEE que nos acuda, e temo, temo muito os tempos que aí vêm.
    Aqueles que julgam que o FMI vai pôr isto na ordem, estão tão enganados coitados.
    Vejam as medidas que eles têm adoptado por onde têm passado :
    -Liberalização dos despedimentos sem justa causa
    -Redução de salários
    -Redução de todas os apoios sociais (saúde, ensino, pensões de reforma.
    -Aumento da idade de reforma.

    Vejam lá se eles travaram, por onde passaram, o despesismo do Estado, por exemplo.

    Isso não ! aí não se toca. Há que extorquir sim, os mesmos de sempre, o Povo.

    Não podemos permitir que isso aconteça de ânimo leve, não podemos permitir que nos retirem direitos há muito adquiridos e pelos quais, outros antes de nós tanto lutaram, com sacrifícios pessoais tremendos e pondo em risco a própria vida.

    O tal filho do meu Pai, tem hoje, felizmente, e pela forma séria e abnegada como sempre trabalhou, uma situação de vida bastante confortável, e o filho dele até usa ténis de marca que não rompem. Podia perfeitamente aburguesar-me e deixar que outros, em situação bem pior, fizessem a luta, mas aí estaria a trair-me a mim próprio, e isso, isso meus bons amigos, isso eu não faço.

    Pelo meu filho, pelos filhos de Portugal, temos de lutar pelos nossos direitos, pela nossa dignidade e não calar nunca mais, permitindo com isso que nos imponham "Novos Estados Novos".

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  6. Ora aqui está!O meu amigo diz os palavrões com toda a força e pujança e eu repito; os filhos da puta que comandaram os destinos deste país durante muitos anos, estão a fazer-nos pagar por muitas coisas que nós não fizemos. Eu não tive culpa das falcatruas deles, das porcarias todas que fizeram, mas o certo é que estamos a pagar isso tudo!!Trabalho e cumpro os meus deveres como cidadã e profissional; jamais me posso responsabilizar pelas asneiras que outros cometem. Era só o que faltava!!!
    O que mais me custa, é deixarmos esta dívida nacional para os nossos filhos e netos pagarem. Como se, já não chegasse a vida complicada que os espera.
    Ponha força nessa sua indignação que é no fundo, a de todos nós(pelo menos, a de uma maioria).Boa Páscoa.

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