16 de junho de 2011

Pensamentos.

A noção de que algo é finito sempre despertou em mim uma necessidade indómita de apreciar esse bem com redobrada atenção e apurando ao máximo todos os sentidos, para dai poder extrair o maior dos prazeres.
O último copo tirado duma garrafa de vinho de qualidade superior, por exemplo, leva-me a saboreá-lo com redobrada atenção, enchendo todos os cantos da boca com aquele maravilhoso néctar, apurando as minhas papilas gustativas, e soltando no fim, invariavelmente, a frase “deste, já não há mais” em homenagem ao saudoso António Silva, no seu Pátio das Cantigas.
Quando faltam 3 ou 4 dias para acabar as férias, todos os meus sentidos se alvoraçam no sentido de aproveitar até à exaustão aquele pouco tempo que falta. O sol parece-me brilhar mais nesses últimos dias, os cheiros a mar e a campo que pairam no ar parecem-me ser os melhores de sempre, e até o maior dos contratempos que me possa acontecer nesses últimos dias não assume proporção superior a uma pequena aventura, sem importância alguma e que até serve para agradável memória futura daquelas férias.
A última colherada naquela maravilhosa mousse de chocolate tem, para mim, um ritual do qual não abdico. A colher vem cheia até não poder mais, e a boca fica atafulhada de doce levando assim mais tempo a ser ingerida e permitindo-me um prazer mais prolongado.

No outro dia, assim do nada, dei por mim a pensar pela primeira vez e duma forma muito concreta que sou finito, que um dia, que espero esteja longe, muito longe, também eu me finarei.
Não sei se isto é coisa de quarentão, ou se simplesmente só agora começo a largar o meu lado mais gaiato e a perceber que afinal não sou aquele super-heroi da Marvel.

Seguindo o mesmo critério que tenho para o tal vinho, para as tais férias, para a tal mousse, dei por mim a pensar que, na impossibilidade de saber quando é que esta viagem acaba, o melhor é começar a encher a boca com o vinho da vida, a fazer de todos os dias uns maravilhosos dias de férias, e a empanturrar-me do doce sabor que é estar vivo.

Ainda não consegui foi transformar os inúmeros contratempos em pequenas aventuras, mas também, penso eu, tenho tempo para lá chegar, que isto se fosse tudo assim tão simples de alcançar acabava por nem ter piada embarcar na viagem, não acham ?

9 comentários:

  1. Também já pensei assim:)

    Saberás certamente que o primeiro copo é bem melhor que o último...lol

    Não gosto de quem espera pelo acabar para se entresticer. Aqueles que na hora da morte pedem mais um minuto para dizer o que não tiveram tempo...durante toda uma vida...

    Viver cada dia como o último. É o mais certo:)

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  2. Podes crer M.
    Só se pede mais tempo quando se tem a perfeita noção que não se fez o que se podia ter feito e isso pesa na consciência.

    Toca mas é a aproveitar isto tudo, já se sabe que os "contratempos" aparecem, mas temos é de aproveitar esta porra ao máximo !

    Eu digo vezes sem conta que na vida o pior dos erros é queimar etapas ! quem queima uma etapa, acabou por desperdiçar um momento único da vida, e mais tarde vai arrepender-se disso.

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  3. Vejo que já tiveste as tuas ultrapassages indevidas...

    Todos temos. Mas nem todos temos consciêcia do erro:)

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  4. Fiz uma ultrapassagem dessas, uma vez na vida, e serviu-me de emenda !

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  5. Olá Eduardo

    Por tudo isso, é preciso ir fazendo pausas para reflectir, e assim apreciar o que a vida tem de bom para nos dar.

    Cada vez gosto menos de correrias, mas ainda tenho muito que aprender a travar!

    Um abraço

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  6. Não há como o tempo de férias para sabermos saborear tudo..
    O único contratempo é que «férias são como bola de sabão: acabam logo»...

    Um abraço - e um bom regresso

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  7. Olá Manuela,
    se todos déssemos mais atenção ao sabor da vida, a contemplação e o prazer de usufruirmos deste planeta seria outro e se calhar estariamos numa situação em que nem seria necessário termos por aí um espectacular blogue como é o "sustentabilidade" para nos alertar que estamos a matar-nos a cada dia que passa :-)))

    Bom fds

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  8. Ò Fernando, quem dera ... quem dera !
    As férias ainda vêm longe.

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  9. Eduardo,

    Quando tomamos consciência dessa realidade, olhamos a vida com outros "olhos".
    É a partir daí que se vive em plenitude.
    Até essa tomada de consciência? Limitámo-nos a ir passando!
    Beijinho.

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