13 de julho de 2011

Momentos.

Decorria o ano de 1996 quando um grupo de reconhecidos músicos Portugueses formou um grupo musical, de seu nome “Rio Grande”.
Gostei imenso do género, em particular das letras, que no meu caso, filho de Alentejanos nascido em Almada e com um Pai a fazer pela vida na Lisnave e uma Mãe doméstica que se esfalfava na costura para fora, espelhavam de forma quase perfeita o meu viver.
O CD tinha acabado de ser lançado, e um dia pela hora de almoço, um colega de trabalho pede-me para o acompanhar numas compras ao Carrefour em Telheiras.
Enquanto ele comprava o que necessitava, fixei-me na zona da música e dediquei especial atenção ao tal CD do Rio Grande.
Estava com o CD na mão quando sou abordado por uma simpatiquíssima figura, um indivíduo baixo e de sorriso largo, trajando umas vestes que não deixavam margens para dúvidas quanto às suas origens Alentejanas e, qual “piece de résistence”, boina basca preta.
Vendo-me com o CD na mão, que tinha na sua capa uma foto com todo o grupo, o sujeito aponta para o Vitorino (com boina igualzinha à que ele trajava) e pergunta-me no mais profundo e maravilhoso sotaque Alentejano :

- Atão escute lá, esse moço nã é aquêli qué lá do Redondo e que tem um irmão que também canta ?
- Sim, é o Vitorino. O irmão é o Janita.
- É esse mêmo ! Atão e escute lá, e o disco presta para alguma coisa ?
- Eu cá gosto muito. Tem umas belas músicas e as letras então são do melhor.
- Dizem quele é comunista, será ?

Por esta altura já a minha admiração por aquela simpática figura era de tal ordem que eu não cabia em mim de contentamento e de agradável surpresa.

- Pois parece que sim. Eu acho que é.
- Ai sim ? atão assim levo ! Obrigadinho amigo, tenha um bom dia.

Agarrou no CD e lá seguiu, com aquele passo firme e decidido dum velho Alentejano de boa têmpera que não se verga nem com o passar dos anos sobre os seus calejados ossos.
Nunca mais esqueci aquele magnífico episódio, e aprendi ali, naquele momento, que para além dos arranjos musicais, das vozes e das letras, há outra bela maneira de escolher as músicas da nossa vida.

2 comentários:

  1. Eis um diálogo só possível de ter com um Alentejano...

    Um abraço.

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  2. És bem capaz de ter razão, Fernando.
    Foi um episódio que mne ficará para sempre na memória.
    Já contei isto milhões de vezes, e não resisti a passá-lo aqui para este "cantinho" e a partilhá-lo com aqueles que por aqui passem.

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