12 de agosto de 2011

Lamentável.

Não consigo, por mais que me esforce, entender o que move efectivamente os espíritos inquietos que fomentam, sempre que podem, a desagregação nacional através duma tentativa de criação de guerra Norte-Sul em Portugal.
Bairrismos e regionalismos sempre existiram e continuarão a existir e são até, em meu entender, saudáveis, porque é através deles que muitas das vezes as pessoas se unem em torno do desenvolvimento das suas terras, das suas populações e acabam por fazer e deixar obra feita.
O que já não é muito aceitável é que alguns indivíduos menos bem intencionados, façam um uso excessivo desses sentimentos bairristas e regionalistas, e que através de discursos inflamados dum ódio cego e perigoso consigam fomentar nalguns espíritos mais incautos, e por ventura menos esclarecidos, autênticas fracturas Norte-Sul onde elas na verdade não existem, nem nunca existiram. Este é um fenómeno que se tem verificado com mais frequência e intensidade nalguns dirigentes desportivos que têm, infelizmente, optado por essa via, como forma de se perpetuarem no poder.

Mas até aí, menos mal, com acefalias futebolísticas e afins pode o país bem, o que não podemos nem devemos tolerar é que de forma sub-reptícia e com frequência que começa a ser preocupante, alguns órgãos de comunicação social enveredem, também eles, e com intenções e objectivos poucos claros, e quem sabe, menos nobres e patrióticos, por esse caminho de fomentação de ódios regionalistas entre o Norte e o Sul.

Em concreto, refiro-me à capa do Jornal de Notícias de hoje, onde surge com letras garrafais o título “São do Norte 132 das 297 escolas que vão fechar”.
Este título, como outros que já têm saído no histórico jornal da cidade do Porto, não é inocente e vem eivado de malícia, tentando deixar na ideia de quem lê, en passant, a capa do JN que o Norte está a ser prejudicado em relação às restantes regiões do País, e aqui leia-se, Sul.

Convém que todos nós, quando nos deparemos com situações como esta não nos deixemos levar “na onda”.
Os números estão correctos, de facto, mas o que o JN não explicou, ou não quis explicar, é que é precisamente no Norte e nos Distritos e Concelhos em causa, que a densidade populacional é maior, o que portanto acabará por se reflectir também num maior número de escolas, e por consequência, num eventual maior número de encerramentos de escolas nesta zona do país.

O que o JN não acautelou desta vez foi a questão Matemática, e esta não pode ser aqui esquecida, é que se repararmos bem 132 escolas encerradas num universo de 297 dá o valor de 44,4%, ou seja, dividindo o país ao meio, entre Norte e Sul, como os Srs. do JN tanto gostam, e tendo em conta que é no Norte que há um maior número de escolas, fica aqui bem claro que o Norte, sendo assim, saiu beneficiado.

Chamar-me-ão à atenção, aqueles mais atentos, que Portugal tem mais que Norte e Sul, Portugal tem também as Ilhas. Está correcto, sim senhor, mas eu quer-me parecer que se para os Srs. do JN o Sul já é essa coisa horrenda que lhes tira o sono, então, Açores e Madeira, para eles, hão de ser coisas que nem deveriam ser consideradas como território nacional.

Lamentável, é tudo quanto se me oferece dizer.

12 comentários:

  1. Apoio e subscrevo este ponto de ordem às hostes jornalísticas/sensacionalistas.

    Não é tolerável que se apele, mesmo que sorrateiramente, à rivalidade bairrista (sabendo nós o que isto representa sempre que a ocasião se proporciona), para assim vender mais jornais.

    Lamentável, sim senhor!

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  2. Bem visto, querido amigo e apoio firmemente a tua indignação.
    A finalidade não é apenas vender jornais.
    Veja este raciocínio; "O sistema quer que continuemos a lutar uns com os outros, a destruir as nossas comunidades, invés de construirmos comunidades e estarmos lá uns para os outros. Enquanto os banqueiros estão a diluir a economia, eles recuam e vêem-nos a destruirmo-nos uns aos outros. E isto é muito triste (...) Eles querem que isto aconteça."
    Isto foi relativo aos motins em Inglaterra, mas quanto a mim, é extensível a todos os povos e disfarçado das formas mais subreptícias.

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  3. Caro António, este é o tipo de jornalismo que, ao invés de informar, deforma.

    E isto não é só lamentável, é antes de mais perigoso e indiciador de vontades e poderes que devem merecer da parte de todos nós um alerta constante e um repúdio ainda maior.

    Há que alertar, sempre, e não deixar que a "mensagem" subliminar que estes Srs. tentam passar surta o efeito por eles pretendido.

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  4. Amiga Fada, sabes tão bem quanto eu que é na sabedoria popular, e em especial nos ditos e provérbios, que muitas vezes encontramos as maiores verdades e as mais correctas análises e observações sobre os mais diversos temas da vida.

    Nesse sentido eu diria que o mote desta gente é "dividir para reinar".

    Atentos, é como devemos estar, e não permitir que esta gente "leve a água ao seu moinho".

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  5. A propósito: o novo director do JN, quando tomou posse, fez questão da afastar do quadro de colaboradores regulares do jornal os dois militantes comunistas que ali escreviam...

    Um abraço e bom fim-de-semana.

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  6. Olá Eduardo!

    Na realidade, esse título não me fez qualquer mossa ou indignação. Não há qualquer fractura norte-sul, e é natural que fechem mais escolas no norte porque há mais juventude no norte (julgo) logo, há mais escolas. Aliás, os títulos da comunicação social há muito que não me fazem qualquer mossa: bem sei que querem é chamar a atenção e por vezes são totalmente enganosos.

    Se não sinto qualquer fractura norte-sul, por outro lado sinto uma profunda injustiça capital-resto do país, mais ainda capital-interior, mas essa tem sido obra de políticos e políticas erradas, não de qualquer tipo de bairrismo...

    Um abraço e bom feriado :)

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  7. Eduardito,

    Os jornais, e os titulos bombásticos apelativos à sua venda? Nem olho para eles! Já todos sabemos qual a finalidade dos mesmos.

    Vês muitos titulos que remetam para a injustiça social, a verdadeira injustiça social, a gritante, a que devia envergonhar os seus causadores?

    Chega de diversão jornalística, tal como chega de desrespeito por todos aqueles que vivem verdadeiros dramas.

    O resto?
    O resto são manobras de diversão para incauto ler/ver!

    Abraço grande.

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  8. Fernando, essa situação que aqui realatas é mais atitude que atesta bem a qualidade do jornalismo praticado, hoje, no JN.

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  9. Benjamina, eu que conheço bem, muito bem, o interior (onde estou precisamente agora a escrever estas linhas), sinto que as constantes políticas erradas dos sucessivos governos criaram, efectivamente, um país muitíssimo desiquilibrado entre litoral e interior.

    Quanto a essa questão do favorecimento Lisboa-resto do país, confesso, é uma expressão que há muito tempo oiço, precisamente a algumas personalidades do Norte (em particular do Porto) mas com a qual não concordo, e que nunca vi ou ouvi devidamente explicada e fundamentada por quem a profere.
    E atenção, isto que aqui digo está longe, muito longe mesmo, de ser uma defesa de Lisboa, porque eu de Lisboa o que mais gosto é da estrada que me traz para Almada !
    Digo isto sim, porque entendo que essa tal siutação de favorecimento de Lisboa não corresponde à realidade.

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  10. O problema Teresa, é que é desta forma que se vai infulenciando e moldando a opinião da generalidade dos tais incautos a que te referes e que, depois, em dia de eleições elegem estes magníficos (des)governos que por aqui andam há já 35 anos a destruir e a saquear Portugal.

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  11. Eduardito,

    Não posso deixar de concordar contigo, mas só em parte.

    Diz-me honestamente (sei que não o farás de outra forma!) acreditas que haja alternativas? Acreditas que existam homens capazes de fazer a diferença?
    O Homem que podia fazer essa diferença já não está entre nós. Todos os outros, e perdoar-me-ás, são "farinha do mesmo saco" apenas com algumas nuances.
    E é esta não alternativa que me angustia.

    Beijinho.

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  12. Teresa, se acredito na existência de alternativas ?
    Mas é claro que sim. Sem qualquer dúvida que há.
    Eu apelo, aqui, muitas vezes a essa alternativa, tentando, à minha maneira, apelar ao sentido cívico e patriótico de todos, lutando para que as pessoas não façam do voto e das frases feitas como "são todos iguais" um lugar comum.

    Teresa, vou-te dar o exemplo de que há alternativa, e não o faço pela retórica mas pela prova provada !
    Portugal está no estado em que está, em crise profunda, sem progresso assinalável, no entanto, nem tudo é assim, e quando há políticos e práticas políticas adequadas, a diferença surge, mesmo dentro do Portugal caótico e em crise.

    Em Almada, Câmara CDU, os últimos 30 e tal anos têm sido de progresso e melhoria constante das condições de vida (prémios nacionais e internacionais estão aí para o provar), e no passado ano de 2010 a essa constante realidade juntou-se, por exemplo, a apresentação de contas relativas à gestão de 2010 a dia 31 de Dezembro de 2010, ou seja, contabilidade feita ao dia, sem atrasos, apresentanso números positivos no exercício e com Zero, leste bem, Zero de dívidas a fornecedores.

    Perguntas-me para ser honesto e responder se acredito em alternativas ?

    Respondo-te, perguntando-te que digas, honestamente, se não tenho motivos para dizer de forma convicta e sem qualquer receio que sim, que há alternativa e que ela se chama PCP/CDU ?

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