Mais um ano de eleições legislativas, mais promessas, mais ideias, mais críticas entre adversários políticos, enfim, o trivial e ao fim e ao cabo aquilo que se espera que aconteça num regime democrático.
Pena que depois, nem sempre, para não dizer quase sempre, não se passe das palavras aos actos.
Mas tudo isto é já do conhecimento de todos e não constitui motivo para que eu me debruce sobre tal tema.
O que realmente me intriga, e este ano em particular, dado os imensos projectos que pelos vistos se avizinham, como são o novo Aeroporto, o TGV e com certeza mais umas quantas Auto-estradas, ainda que paralelas entre elas e a servirem os mesmos destinos, é que, teimosamente, se continue a desperdiçar uma importante mão de obra que faria seguramente baixar, de forma significativa, o custo final de tais projectos e constituiria ainda um importante passo adiante numa sensitiva questão social.
Estou a falar da, infelizmente cada vez maior, população de presos em Portugal.
Sempre que se falam dos presos das nossas cadeias, fala-se e bem da sua reinserção social. Ora a verdade é que tenho visto pouco obra feita nesse sentido. É que reinserir socialmente alguém, é algo bastante complexo e que passa não só pelo comportamento do preso, bem como pela forma como a sociedade olha para essa pessoa.
Fazê-lo cumprir uma pena, e tentar depois reinserí-lo, por exemplo, no mercado de trabalho, não se fará seguramente apenas alegando que ele, o preso, já cumpriu a sua pena, que afinal se regenerou e que agora até é um bom rapaz e disposto a endireitar-se.
Quem é que hoje, numa sociedade desconfiada e escaldada, vai em boas palavras ?. Poucos seguramente.
Agora imaginemos que a cada grande projecto Nacional, como serão os casos que acima referi, o nosso sistema político, judicial e prisional trabalhassem em conjunto e criassem equipas de mão de obra não especializada, ou até mesmo especializada, se for esse o caso de alguns dos reclusos, para trabalharem nesses grandes projectos que farão evoluir o País.
Eu, e seguramente muitos mais, passaria a olhar para os presos com outros olhos. Sempre que circulasse por uma auto-estrada onde os nossos reclusos tinham tido papel fundamental na sua construção, passaria a achar que eles estavam a cumprir um papel importante na nossa sociedade, que não eram apenas uns marginais que estavam acantonados numas celas e que tinham cama, comida e roupa lavada à conta dos impostos daqueles que cumprem a lei, ao contrário deles.
Isto sim, seria, a meu ver, uma brilhante forma de reinserção social, que mudaria drasticamente a imagem que a sociedade em geral tem dos presos.
Não esquecendo que, desta forma, estaríamos inclusive a contribuir para a formação profissional de muitos dos nossos reclusos que, no final das suas penas, estariam aptos a continuar a trabalhar nas áreas da construção civil e outras afins.
E imaginemos o impacto que isto teria no custo final dos projectos.
Eu gostaria de ver, pelo menos uma das nossas forças políticas, a ter esta questão em conta.
É Eduardo, muito bem pensado e ainda melhor escrito!
ResponderEliminarSabe que penso nisso muitas vezes? Parece que só imitamos os EUA, naquilo que não devemos!
Nem imagina as vezes que eu me faço essa mesma pergunta... Afinal, estão por conta dos contribuintes e passavam a fazer algo de útil a toda a sociedade, era a maneira de se sentirem úteis. mas o Estado português, não pensa em mais nada que não seja "rapinar" o dinheiro dos contribuintes para viverem, eles decisores, à grande e à francesa!
Que desgosto me dá este País. Obrigada por ter chamado a atenção, de um problema que poderia não o ser.
Boa noite Fada e obrigado pelo elogio.
ResponderEliminarE eu referi apenas a possibilidade de participarem na área da construção, sendo que, a limpeza das matas e consequente baixa de possibilidade de ocorrência de fogos é outra das áreas onde este País precisa de investir e podia usar a mão de obra prisional.
Eu dediquei um post no sustentabilidade há uns meses, focando exactamente o abandono de uma floresta rastilho...eucaliptos e pinheiros explodem... como sabe!...
ResponderEliminarboa noite Eduardo
ResponderEliminarsendo eu estagiária, neste momento, num estabelecimento prisional,tenho verificado a dificuldade que um recluso tem ao sair, não há acompanahmento de especie alguma, e dentro o pouco que se pode fazer é isso mesmo muito pouco...estou a tentar eleborar um conjunto de acções de formação e sinto me frustrada pois ninguem aposta neles....Há que mudar o sistema e as mentes das pessoas só assim eles poderão ser inseridos nesta sociedade desconfiada que se criou...obrigada pelo seu artigo....