17 de outubro de 2011

Meia hora de estupidez.

O grande problema de se entregarem pastas altamente sensíveis como a das Finanças e da Economia a teóricos de escritório ou de sala de aula, que nunca contactaram directamente com a realidade empresarial, com as dificuldades que surgem no terreno, no dia-a-dia da gestão das empresas, da gestão dos países, é precisamente o perigo de passarmos a viver sob medidas irreais que, ao invés de ajudarem, podem, isso sim, conduzir a um fracasso brutal.
E o problema é que quando esta gente fracassa nos cálculos nas suas aulas, nos seus testes, o pior que acontece é terem uma sala de aulas que os olha com algum gozo e sorriso sarcástico, ou, quando são eles a falharem nalgum teste, a terem uma classificação negativa.
Mas quando entregam a esta gente, eminentemente teórica, a responsabilidade dum Ministério das Finanças ou da Economia, os seus erros deixam de gerar sorrisos, antes provocam choro a muita gente.
Choro de fome, choro de miséria, de desespero, de vida frustrada.

Vem tudo isto no seguimento da medida de colocar os trabalhadores do sector privado a trabalharem mais meia hora por dia.
Nos cálculos, no papel, na teoria, este é uma medida que até é capaz de fazer algum sentido, mas o problema dos nossos “Gaspares” e dos nossos “Álvaros” é que eles nunca estiveram no terreno, e nem agora se dão ao trabalho de tentarem sair dos seus gabinetes para tomarem o pulso à realidade empresarial do país.

Vou dar aqui dois exemplos que representem um universo muito abrangente da realidade das nossas pequenas e médias empresas que, por sua vez, representam uma fatia muito importante da nossa economia.
Durante a semana passada conversei com dois amigos meus que são empresários, um tem uma empresa de instalação de gás canalizado, onde emprega cerca de uma dezena de pessoas. O outro, tem uma serralharia já de alguma dimensão, onde emprega cerca de 3 dezenas de pessoas.
Ambos me confessaram que receberam a notícia do acréscimo de meia hora diária de trabalho com um misto de surpresa, indignação e incredulidade.
Tanto um como outro, lutam com baixas de facturação na ordem dos 50%, e ambos têm feito um esforço quase desumano no sentido de evitarem os despedimentos que, segundo eles, acontecerão necessariamente no início do próximo ano se nada acontecer que venha inverter a situação.
Segundo eles, andam a “esticar” o trabalho, fazendo-o render para tentar manter as pessoas ocupadas o maior número de horas possíveis durante o dia. Tarefas que há um ano atrás se realizavam em meio-dia, são hoje prolongadas para ver se mantém as pessoas ocupadas o dia inteiro.
Perante isto, está bom de ver que a tal medida da meia hora só pode ser encarada, de facto, com o maior dos desprezos, o maior dos repúdios.
O da serralharia dizia-me mesmo que, manter as luzes acesas e as máquinas ligadas mais meia hora, significaria um custo tão elevado que teria de começar a mandar pessoas para o desemprego, já !

Aqui estão dois bons exemplos, que representam muito bem a generalidade do que se passa no sector das pequenas e médias empresas, e que os nossos Ministros das Finanças e da Economia parecem empenhados em destruir de forma irreversível.

12 comentários:

  1. Ainda temos bons exemplos? Não somos nós todos condenáveis?

    Falo por mim:;(

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  2. Não sei o que te diga, M.
    Eu não me condeno por termos gente desta a governar-nos, porque não contribui para isso com o meu voto.

    Condeno-me sim, mas por outras razões.

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  3. Esta questão da meia hora a mais de trabalho diário não dá para perceber.
    Precisamos de mais produtividade? A produzir o quê? Deixámos que a UE nos impusesse regras de controlo nas nossas produções, em contrapartida inundou o nosso país (alguns xico-espertos) de euros,diz que para melhorarmos a nossa performance como trabalhadores (lembram-se das vigarices à volta do FSE? e outros...), depenaram-nos, nós, papalvos, todos convencidos que os nossos dirigentes estavam a controlar as coisas, afinal andaram foi a encher a mula.
    Já se sabia que esse isco nos seria retirado quando estivéssemos bem viciados na droga do dinheiro fácil, agora temos os agiotas de sempre a cobrarem-nos juros incomportáveis. Entretanto, uns quantos já se abotoaram com o suficiente para suportarem os efeitos da "crise"...

    Agora, é isto? Nem sabem se o Déficit é X ou X elevado a n, com n a tender para o infinito.
    Que raio de trafulhices! Afinal, nós é que temos sido uns parvos, uns ceguinhos, a deixar-nos guiar à vontade por meia dúzia de iluminados.

    Claro, a receita é sempre a mesma: Na nobreza (perdão, os que se alcandoraram ao Poder político) e o Clero, sempre na boa; o Povo é que se lixa.
    P...que é de mais!

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  4. Em termos de mundo trabalho, caro Eduardo, todos estes teóricos estão a anos-luz da realidade.
    Mas repara.
    Que medidas prátricas tomam os parceiros sociais?
    Patronato e sindicatos não se reúnem? Não se têm reúnido ao longo dos anos?
    Há trabalhos, há estudos feitos por gente que conhece(ia) muito bem essa problemática. Porque não pegar em alguns dossiers e tentar seguir algumas medidas que se sabe terem resultado?

    Não, garanto-te, não me sinto nada, mas nada responsável por esta situação.

    Só lamento que os verdadeiros responsáveis, os que pensaram que a "àrvore das patacas" nunca secava, não sejam punidos por todo o mal que causaram ao país.

    Lembras-te do que se passou com as quotas do leite? (isto é um pequeníssimo exemplo)
    Do leite que era deitado fora porque a UE não permitia uma produção superior a X litros?

    Não, não me sinto minimamente responsável.

    Mais meia hora de trabalho?
    Queres melhor exemplo, melhor prova que tem teve esta brilhante ideia não sabe, não faz a mínima ideia do que representa esta medida?

    Beijinho.

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  5. Anónimo17/10/11

    Eduardo,
    Em termos gerais parece-me uma medida positiva que poderá ajudar na competitividade de algumas empresas, sobretudo as de bens transacionáveis, e mais expecificamente as que exportam.
    Não é isenta de falhas, mas não existem soluções milagrosas. Ao que sei é temporária (a ver vamos) e pode, ou não, ser adoptada pelas empresas.
    Fossem todas deste tipo.

    um abraço,
    Paulo Lobato

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  6. Anónimo17/10/11

    Em adição: infelizmente existe a possibilidade de algumas empresas lucrativas abdicarem dos seus "temporários" e não admitirem novos trabalhares para responder a aumentos de produção.
    Esta é uma das falhas que eu encontro, mas não sei como se ultrapassa.

    Paulo Lobato

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  7. Caro Nunes, o retrato que faz é correcto e espelha bem o que Portugal tem sido ao longo dos últimos 35 anos.
    A questão que me coloco vezes sem conta é :

    - O que é que falta para que este Povo pare de uma vez por todas de votar neste "duo-maravilha" do PS e do PSD ?

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  8. Teresa, ainda bem que não contribuiste para isto.

    Parceiros Sociais ?

    O que é isso ?
    Parceiros pressupõe que hajam parcerias, certo ?

    Com um patronato autista, que se recusa a ouvir a CGTP-IN e que tem na UGT um verdadeiro braço armado que tenta dinamitar pela base a luta sindical, como é que se pode considerar como "Parceiros Sociais" ?

    Essa é mais uma das falácias que convém pôr a nú, para que o Povo vá abrindo os olhos e pare de se deixar enganar.

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  9. Amigo Paulo, antes de mais saúdo o teu regresso aqui ao meu "cantinho".

    A medida poderá fazer sentido para as empresas que ainda vão conseguindo exportar alguma coisa, como salientas.
    Mas essas empresas, hoje, representam quanto em termos percentuais do nosso tecido empresarial ?
    Seguramente muito pouco, hás de convir.

    Que se criem condições que favoreçam as empresas Portuguesas que conseguem exportar, estou completamente de acordo, agora que se tomem medidas que em nada favorecem o grosso do nosso tecido empresarial é que já me parece um profundo disparate.

    O teu segundo comentário toca no ponto mais negativo desta medida. O desemprego, com esta medida, tende a aumentar ... muito !

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  10. Carlos Fernandes19/10/11

    Os trabalhadores bancários, há muitos anos que trabalham horas a mais todos os dias, sem serem pagas.
    Essas horas tem servido para que ao longo dos ultimos anos os bancos tenham acumulado milhões em lucros que unicamente tem servido para encher ainda mais os bolsos dos capitalistas e nada em prol do desnvolvimento do pais, antes pelo contrário.
    Esta meia hora não vem resolver nenhum problema de competetividade das empresas mas sim criar ainda mais problemas, tanto nas relações de trabalho como na vida de quem trabalha.
    Alguem pensou nos horários das creches dos atl etc.?
    Sambem quantas mães ou pais chegam em cima da hora para ir buscar os filhos?
    Isto é só um exemplo, mas como diz o Eduardo o que a maior parte das empresas precisam é trabalho e não de mais horas de laboração. e para completar este comentario só dizer que ontem fui pôr o carro à revisão e deparei com uma oficina parada e com os mecanicos a inventar trabalho.
    Durante quanto tempo aquele pequeno empresário vai poder manter os postos de trabalho?
    E eu voltarei a poder por o carro na revisão?
    Se calhar vai ter que ser um daqueles mecanicos a vir à minha porta desenrascar e desenrascar-se ele próprio, em mais meia horinha...

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  11. Anónimo19/10/11

    Se queremos mudar de vida, temos de começar a olhar também para os aspectos positivos e não apenas para a parte negativa das medidas; porque como todos sabemos, não existem soluções isentas de problemas e que consigam agradar a todos.
    É óbvio que esta medida não se destina a empresas com falta de "trabalho", pelo que não vale a pena perder tempo nesse argumento.
    Se verdadeiramente queremos ultrapassar esta situação, que é cada vez mais trágica para um cada vez maior número de pessoas, temos de buscar soluções; e isso também passa por hábitos e ajustar horários.

    Paulo Lobato

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  12. Amigo Carlos, quanto aos trabalhadores bancários e aos lucros dos bancos, mais de acordo não posso estar, ou não fosse essa a minha realidade ao longo dos últimos 20 anos.

    Quanto ao resto, a situação da tal meia-hora é tão absurda que nem vale a pena dissecá-la mais.

    Sabes onde é que a meia-hora vai dar resultado ? Nas grandes superfícies comerciais, nos call-centers, nas empresas de telecomunicações e por aí fora.
    E no que é que essas empresas contribuem para aumentar as nossas exportações ?
    Em nada, certo ?

    E quem é que vai ganhar com isso ?
    A quem pertencem as empresas que acima referi ?
    Os Belmiros, os Jerónimos Martins, esses sim, esses esfregam as mãos de contentamento com mais meia hora de escravidão dos seus funcionários.

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