
Na maior parte das vezes em que se fala sobre o actual estado de crise nacional, e do desequilíbrio cada vez maior entre as nossas exportações e importações, tende-se a estabelecer paralelismos e/ou comparações com realidades distintas que se verificam noutros países, alguns até fora do espaço Europeu a que pertencemos.
É bem verdade que os bons exemplos se podem e devem de importar,
independentemente da sua origem, mas não é menos verdade que muitas das vezes, o que funciona na perfeição noutra parte do globo, não funcionará necessariamente bem aqui em Portugal. Porque as realidades são distintas, a sociedade rege-se por outra ordem de valores, a economia conhece realidades totalmente distintas, o clima é diferente, etc. etc. etc.
Por tudo isto, prefiro sempre pegar em bons exemplos nacionais, com fórmulas mais que testadas e sustentadas em resultados francamente positivos, para que sirvam de verdadeiros “case-
study” no sentido de repensarmos o país e nos tornarmos competitivos
internacionalmente, com uma economia forte, ou pelo menos, menos fraca, e que nos permita ir mitigando a diferença assustadora que se tem acentuado em relação ao “comboio” dos restantes países da UE
Os mercados actuais absorvem, basicamente, dois tipos de produtos, o produto normalizado, produzido em massa e a preços altamente competitivos, e o chamado produto “
gourmet”, o produto de qualidade superior, que não é produzido em larga escala, mas que tem o seu escoamento sempre garantido pelas classes alta e média-alta que consomem, até à exaustão, este ultimo tipo de produto.
Exemplo disso mesmo são os nossos Vinho do Porto e Vinho da Madeira,
Há anos que estes sectores não conhecem crises, que exportam muito bem e que vêem
escoados todos os stocks.
Este é, por exemplo, um dos “case-
study” a que me refiro. Não precisamos de ir lá fora para beber conhecimento que nos permita entender que passos devemos dar no sentido de criar produtos que sejam absorvidos pelos mercados externos e que signifiquem criação de mais valias para Portugal.
Portugal até é um país abençoado pelo clima e pela geografia, o que nos tem permitido produzirmos produtos de alta qualidade mas que nunca foram devidamente explorados com o objectivo de os tornar rentáveis através das suas exportações para os mercados externos, como aconteceu com os casos dos vinhos do Porto e da Madeira.
Então, pergunto eu, para quando a criação de regiões demarcadas que nos permitam criar condições para fazer elevar as cotações de alguns outros produtos Portugueses que já deviam de estar a ser devidamente produzidos e comercializados para os mercados externos ?
A cereja do Fundão, que é constantemente considerada como a cereja de maior qualidade produzida na Europa, a laranja Algarvia, de qualidade e sabor únicos, as maçãs do Oeste, também elas altamente conceituadas, o azeite, que de sul a norte é produzido em Portugal e que ganha ano após ano medalhas de ouro nos concursos
internacionais, a carne Mirandesa e a de Arouca, também com vários prémios
internacionais ganhos, o porco preto do Alentejo, o queijo dos Açores, os cogumelos e espargos de praticamente todo o interior do país …
Tudo isto são produtos de altíssima qualidade que poderiam e deveriam significar a saída de Portugal do marasmo em que nos encontramos e do constante
afundanço na balança das exportações, por total inépcia dos nossos governantes e empresários.
Dada a reduzida dimensão do nosso território, jamais poderemos competir, em termos de preço e quantidade, com os grandes produtores Europeus como a França, Alemanha e até Espanha, mas podemos, e devemos, ser o país
Gourmet desta Europa.
A matéria prima está, e sempre cá esteve, basta trabalhá-la.