28 de dezembro de 2009

Portugal Gourmet

Na maior parte das vezes em que se fala sobre o actual estado de crise nacional, e do desequilíbrio cada vez maior entre as nossas exportações e importações, tende-se a estabelecer paralelismos e/ou comparações com realidades distintas que se verificam noutros países, alguns até fora do espaço Europeu a que pertencemos.
É bem verdade que os bons exemplos se podem e devem de importar, independentemente da sua origem, mas não é menos verdade que muitas das vezes, o que funciona na perfeição noutra parte do globo, não funcionará necessariamente bem aqui em Portugal. Porque as realidades são distintas, a sociedade rege-se por outra ordem de valores, a economia conhece realidades totalmente distintas, o clima é diferente, etc. etc. etc.
Por tudo isto, prefiro sempre pegar em bons exemplos nacionais, com fórmulas mais que testadas e sustentadas em resultados francamente positivos, para que sirvam de verdadeiros “case-study” no sentido de repensarmos o país e nos tornarmos competitivos internacionalmente, com uma economia forte, ou pelo menos, menos fraca, e que nos permita ir mitigando a diferença assustadora que se tem acentuado em relação ao “comboio” dos restantes países da UE
Os mercados actuais absorvem, basicamente, dois tipos de produtos, o produto normalizado, produzido em massa e a preços altamente competitivos, e o chamado produto “gourmet”, o produto de qualidade superior, que não é produzido em larga escala, mas que tem o seu escoamento sempre garantido pelas classes alta e média-alta que consomem, até à exaustão, este ultimo tipo de produto.
Exemplo disso mesmo são os nossos Vinho do Porto e Vinho da Madeira,
Há anos que estes sectores não conhecem crises, que exportam muito bem e que vêem escoados todos os stocks.
Este é, por exemplo, um dos “case-study” a que me refiro. Não precisamos de ir lá fora para beber conhecimento que nos permita entender que passos devemos dar no sentido de criar produtos que sejam absorvidos pelos mercados externos e que signifiquem criação de mais valias para Portugal.
Portugal até é um país abençoado pelo clima e pela geografia, o que nos tem permitido produzirmos produtos de alta qualidade mas que nunca foram devidamente explorados com o objectivo de os tornar rentáveis através das suas exportações para os mercados externos, como aconteceu com os casos dos vinhos do Porto e da Madeira.
Então, pergunto eu, para quando a criação de regiões demarcadas que nos permitam criar condições para fazer elevar as cotações de alguns outros produtos Portugueses que já deviam de estar a ser devidamente produzidos e comercializados para os mercados externos ?
A cereja do Fundão, que é constantemente considerada como a cereja de maior qualidade produzida na Europa, a laranja Algarvia, de qualidade e sabor únicos, as maçãs do Oeste, também elas altamente conceituadas, o azeite, que de sul a norte é produzido em Portugal e que ganha ano após ano medalhas de ouro nos concursos internacionais, a carne Mirandesa e a de Arouca, também com vários prémios internacionais ganhos, o porco preto do Alentejo, o queijo dos Açores, os cogumelos e espargos de praticamente todo o interior do país …
Tudo isto são produtos de altíssima qualidade que poderiam e deveriam significar a saída de Portugal do marasmo em que nos encontramos e do constante afundanço na balança das exportações, por total inépcia dos nossos governantes e empresários.
Dada a reduzida dimensão do nosso território, jamais poderemos competir, em termos de preço e quantidade, com os grandes produtores Europeus como a França, Alemanha e até Espanha, mas podemos, e devemos, ser o país Gourmet desta Europa.
A matéria prima está, e sempre cá esteve, basta trabalhá-la.

11 comentários:

  1. Anónimo28/12/09

    Olá Eduardo! :))
    Isso é que foram cá uma férias!!
    Espero que tenham decorrido pelo melhor.
    Gostei muito do seu ponto de vista, neste artigo, mas, o Eduardo esqueceu-se de duas coisas que lhe não perdoo... :)))o queijo da Serra da Estrela e o cavalo Lusitano... Topo de gama, nem mais! :))
    Abraço Eduardo.

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  2. Olá Fada, foram uns belos dias de descanso de facto.
    Eu esquecer-me não me esqueci, até havia mais para enunciar para além desses que aponta, não temos tido é empresários e políticos capazes de os potenciar.
    Tem sido um desperdício, mas da forma que as coisas estão acredito piamente que poderíamos tornar Portugal num país que produzisse em qualidade e não em quantidade, e com isso tornarmo-nos uma referência Europeia e Mundial nos artigos de qualidade superior.

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  3. O caminho só pode ser esse, Eduardo.
    E quem fala em produtos alimentares, fala em muitas outras coisas.
    E concordo com a Fada, esquecer o queijo da Serra da Estrela é imperdoável.:))
    um abraço

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  4. Olá Eduardo
    Pois eu concordo consigo! Portugal não é o maior, mas pode ser o melhor em muitas coisas, tem é de saber aproveitar as oportunidades, a criatividade e a capacidade de trabalho. Apostar na qualidade e não na quantidade, esse é o caminho. A propósito, vale a pena ler o texto de Fernando Pessoa "O conceito de nós próprios" que está no blogue Direito e Avesso.
    Um abraço e um bom (aliás, excelente) ano de 2010.

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  5. Fada e Paulo, pensei em alterar o texto para incluir o Queijo da Serra, mas achei melhor ir comprar um e "mamá-lo" e deixar o texto na mesma :-)))
    São servidos ?

    Agora a sério, penso que Portugal podia e devia enveredar pelo aposta na produção de qualidade, e tal como o Paulo disse, em muitas outras àreas para além dos produtos alimentares. Veja-se o caso dos móveis de Paços de Ferreira, por exemplo !

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  6. Benjamina, obrigado pelo link para o texto do Pessoa que é de facto brilhante (dele não seria de esperar outra coisa).
    Mais um blog que seguirei !

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  7. Anónimo29/12/09

    O Eduardo, nem me fale nos móveis de Paços de Ferreira!... É que eu ia falar do assunto e calei-me... sabe que a Ikea deixou esse lugar, transformado numa cidade fantasma! Deu-lhes cabo do negócio e tudo está na pobreza, fora alguns patrões... até dá dó. Mais a mais, já muitos me dizem, que fica mais barato comprar novo no Ikea, do que mandar restaurar ou modificar!
    Isso empobreceu toda esta zona... :((

    Quanto ao queijo aceitava, mas, estou muito longe!.. :))
    Adorei foi a sua resposta, Eduardo! :))))

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  8. Anónimo29/12/09

    AHH... e Portugal só se safa tomando mesmo essa via. Temos muitas potencialidades para isso, se fossem aproveitadas seríamos um País rico!

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  9. Olá Eduardo
    Tem muita razão, não temos "estatura" para produções em massa, mas devemos ser um país "gourmet", matéria prima não falta.
    A propósito, sabe aquela história do boicote ao Quinta do Côtto por causa da rolha não ser de cortiça (nós boicotamos deixando de comprar)? pois no blogue Ambio também fizeram o boicote, e enviaram e-mail aos proprietários. Agora, com o direito do contraditório, publicaram a resposta de Miguel Champalimaud. É muito cínica e não me demove, mas lá que tem algumas verdades, isso tem.
    Espreite esse blogue, pois na minha opinião é excelente para quem quer estar (bem)informado sobre questões ambientais. E tem havido lá uma discussão muito acesa e esclarecedora sobre o tema alterções climáticas/ aquecimento global/ CO2.

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  10. Manuela, obrigado pela informação relativa ao Ambio. Já lá fui ler o post e de facto há ali matéria para discussão. Embora não concordando com algumas das "verdades" do Miguel Champalimaud há pelos menos duas questões que me parecem ser de assinalar.

    1º a abertura ao diálogo e à discussão da sua parte.

    2º O sério (e correcto) aviso à navegação que ele faz relativamente ao marasmo em que a industria da cortiça se deixou cair nesta questão das rolhas (porque noutras àeras tem conhecido significativos progressos).

    Mas a mim (ainda) não me convenceu, antes me pôs ainda mais interessado em aprofundar este tema, e quem sabe, também contra-argumentar com algumas questões que não vi ali afloradas e que me parecem relevantes.

    Acicatou-me, foi o que foi !

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  11. Eduardo
    Tem toda a razão. Já agora fica aqui o link para duas respostas bem dadas pelo Ambio ao Champalimaud, de Henrique Pereira dos Santos e de Henk Feith.

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