27 de junho de 2010

A minha homenagem a Mário Soares.

Como cidadão consciente não podia, obviamente, deixar de me juntar ao grupo de Portugueses que esta semana decidiram homenagear o Dr. Mário Soares, considerando-o mesmo o "mais ilustre Português vivo".
Qualquer Português vivo, mesmo que não tão ilustre como o "mais ilustre" Dr. Mário Soares, deve de facto homeageá-lo, como puder e como souber.
Eu vou tentar homenageá-lo aqui, da forma que posso e que sei, mesmo correndo o risco de não conseguir homenageá-lo da forma como ele efectivamente merecia.

Dr. Mário Soares gostaria de homenageá-lo :

- Pela forma como se conseguiu escapar à PIDE e passar um bom par de anos, num exílio dourado, em hotéis de luxo em Paris.

- Por ter conduzido da forma "brilhante" que se viu, o processo de descolonização.

- Por ter conseguido que os Estados Unidos financiassem o PS durante os primeiros anos da Democracia.

- Por meter o socialismo na gaveta durante a sua experiência governativa.

- Por tratar da forma despudorada amigos como Jaime Serra, Salgado Zenha, Manuel Alegre e tantos outros.

- Por governar sem ler os "dossiers".

- Por não voltar a ser primeiro-ministro depois de tão fantástico desempenho no cargo.

- Por se ter posto a jeito para ser agredido na Marinha Grande e, dessa forma, vitimizar-se aos olhos da opinião pública e vencer as eleições presidenciais.

- Por, após a vitória nessas eleições, fundar um grupo empresarial, a Emaudio, com "testas de ferro" no comando e um conjunto de negócios obscuros que envolveram grandes magnatas internacionais.

- Por utilizar a Emaudio para financiar a sua segunda campanha presidencial.

- Por nomear para Governador de Macau Carlos Melancia, um dos homens da Emaudio.

- Por passar incólume no caso Emaudio e no caso Aeroporto de Macau e, ao mesmo tempo, dar os primeiros passos para uma Fundação na sua fase pós-presidencial.

- Por ler o livro de Rui Mateus, "Contos Proibidos", que contava tudo sobre a Emaudio, e ter a sorte de esse mesmo livro, depois de esgotado, jamais voltar a ser publicado.

- Por passar incólume às "ligações perigosas" com Angola, ligações essas que quase lhe roubaram o filho no célebre acidente de avião na Jamba (avião esse carregado de diamantes, no dizer do Ministro da Comunicação Social de Angola).

- Por, durante a sua passagem por Belém, visitar 57 países ("record" absoluto para a Espanha - 24 vezes - e França - 21), num total equivalente a 22 voltas ao mundo (mais de 992 mil quilómetros).

- Por visitar as Seychelles, esse território de grande importância estratégica para Portugal.

- Por, no final destas viagens, levar para a Casa-Museu João Soares uma grande parte dos valiosos presentes oferecidos oficialmente ao Presidente da Republica Portuguesa.

- Por guardar esses presentes numa caixa-forte blindada daquela Casa, em vez de os guardar no Museu da Presidência da Republica.

- Por, ainda hoje, ter 24 horas por dia de vigilância paga pelo Estado nas suas casas de Nafarros, Vau e Campo Grande.

- Por, depois de abandonada a Presidência da Republica, constituir a Fundação Mário Soares. Uma fundação de Direito privado, que, vivendo à custa de subsídios do Estado, tem apenas como única função visível ser depósito de documentos valiosos de Mário Soares. Os mesmos que, se são valiosos, deviam estar na Torre do Tombo.

- Por construir o edifício-sede da Fundação violando o PDM de Lisboa, segundo um relatório do IGAT, que decretou a nulidade da licença de obras.

- Por conseguir que o processo das velhas construções que ali existiam e que se encontrava no Arquivo Municipal fosse requisitado pelo filho e que acabasse por desaparecer convenientemente no incêndio dos Paços do Concelho.

- Por receber do Estado, ao longo dos últimos anos, donativos e subsídios superiores a cinco milhões de Euros.

- Por receber, entre os vários subsídios, um de dois milhões e meio de Euros, do Governo Guterres, para a criação de um auditório, uma biblioteca e um arquivo num edifico cedido pela Câmara de Lisboa.

- Por receber, entre 1995 e 2005, uma subvenção anual da Câmara Municipal de Lisboa, na qual o seu filho era Vereador e Presidente.

- Por conseguir que o Estado lhe arrendasse e lhe pagasse um gabinete, a que tinha direito como ex-presidente da República, na... Fundação Mário Soares.

- Por conseguir que, ainda hoje, a Fundação Mário Soares receba quase 4 mil euros mensais da Câmara Municipal de Leiria.

- Por fazer obras no Colégio Moderno, propriedade da família, sem licença municipal, numa altura em que o Presidente era claro está... João Soares.

- Por silenciar, através de pressões sobre o director do "Público", José Manuel Fernandes, a investigação jornalística que José António Cerejo começara a publicar sobre o tema.

- Por candidatar-se a Presidente do Parlamento Europeu e chamar dona de casa, durante a campanha, à vencedora Nicole Fontaine.

- Por considerar José Sócrates "o pior do guterrismo" e ignorar hoje em dia tal frase como se nada fosse.

- Por passar por cima de um amigo, Manuel Alegre, para concorrer às eleições presidenciais uma última vez.

- Por ler os artigos "O Polvo" de Joaquim Vieira na "Grande Reportagem", baseados no livro de Rui Mateus, e assistir, logo a seguir, ao despedimento do jornalista e ao fim da revista.

- Por passar incólume depois de apelar ao voto no filho, em pleno dia de eleições, nas penúltimas Autárquicas.

E muito mais razões haveriam, seguramente, para que eu o homenageasse, mas infelizmente estas são apenas aquelas que se sabem, ou de que mais se falam.
Como vê Dr. Mário Soares, da minha parte, a homenagem é sentida e honesta.
Um bem haja para o Sr., e fique descansado que tem em mim um Português que muito chorará de tristeza a hora da sua morte, lamentando que a mesma não tenha ocorrido logo à nascença.

5 comentários:

  1. Ena, pá! Não o sabia tão enérgico, tão indignado, tão irónico!
    Texto veemente que reflecte uma consciência politica e humana muito profunda, sem dúvida!
    Esta sua homenagem é brava! Escaldante!
    Mas se é sentida e se o Eduardo conhece as realidades que aqui nos descobre, tem razão, certamente!
    De qualquer forma, eu ainda nutro por esse seu homenageado um respeito antigo, de alguém que, para mim, representou a democracia e a liberdade, após tantos anos de repressão e fascismo. Coisa, de gente mais idosa e saudosista!
    Obrigada pelo poema em castelhano que lá me foi deixar. Lindo! Amei!
    Obrigada pela dedicação que tem ao meu trabalho.
    Também admiro muito o seu texto, a sua forma crítica, pertinente e impertinente de retratar e reflectir o mundo, as pessoas, os acontecimentos, as ideias... Consigo, descubro um outro modo de ver; descubro o outro lado do espelho! Obrigada.
    Espero que já esteja recuperado. Jinhos.

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  2. Nestas questões, sou de facto enérgico, em especial quando toca a algumas personalidades políticas, com o Dr.Mário Soares à cabeça.
    Não ponho em causa que o senhor tenha desempenhado o seu papel na conquista da Democracia, mas até aí, muitos outros houve que lutaram muito mais que ele, que sofreram na pele muito mais que ele, e que nunca reclamaram para si o epíteto de "pai da democracia", como este Sr. sempre fez.
    Lá estou eu a esticar-me outra vez :-))
    Ainda bem que gostou do poema. Eu adoro-o.
    Você escreve tão bem, de forma tão sentida, tão musical, tão ... poética.
    As melhoras têm sido boas, mas a recuperação definitiva é ainda uma miragem. Lá para Setembro, talvez !

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  3. Anónimo7/11/12

    O que tem a dizer sobre o facto de ter sido publicado um texto alegadamente pela Clara Ferreira Alves no Expresso, exactamente igual a este?

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  4. É pena ter feito passar como seu um texto que é MEU. E que anda a circular por aí como tendo sido publicado pela Clara Ferreira Alves no Expresso. Mas é do que temos mais na blogosfera portuguesa.

    Ricardo Santos Pinto

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  5. É feio copiar o trabalho dos outros sem dar os respectivos créditos.

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