23 de maio de 2011

Não basta reclamar.

Os números não mentem, a crise em Portugal é real, existe mesmo, e não há como camuflá-la.
As longas e eternas discussões sobre quem foram os principais responsáveis por termos chegado onde chegámos têm sido feitas um pouco por todo o lado, e com resultados que, até ao momento, em pouco ou nada contribuíram para que pudéssemos sair desta complicada situação.
À medida que se aproxima o dia 5 de Junho, é cada vez mais audível a voz de descontentamento do Povo Português.
Ouve-se a voz que reclama do elevadíssimo nível de desemprego, da crescente precariedade naqueles que ainda vão trabalhando, do aumento generalizado dos preços e em particular nos bens essenciais e na saúde.
E eu concordo com estas vozes de descontentamento. Todos os que aqui me seguem sabem bem o quanto defendo o verdadeiro Estado Social, o quanto defendo as políticas de esquerda que visam a defesa dos direitos e garantias dos trabalhadores, o quanto defendo que a riqueza produzida deverá ser distribuída de forma mais equitativa.
Mas uma coisa é certa, as políticas de esquerda, e essencialmente estas, fazem-se para o Povo mas também com o Povo. O Povo tem de ser participativo e ajudar a que a implementação destas políticas se faça de forma crescente e adequada. Não podemos, nem devemos, pedir que nos governem com políticas de esquerda, e comportarmo-nos depois como verdadeiros liberais, fazendo do despesismo, do consumismo supérfluo e desnecessário um modo de vida quotidiana.

Meus caros, “sol na eira e chuva no nabal”, é coisa (quase) impossível de alcançar nos modelos políticos e sociais.

Exigimos combustíveis mais baratos, e exigimos também mais e melhores transportes públicos, mas todos os dias de manhã os engarrafamentos para se entrar nas grandes cidades são enormes, e com a esmagadora maioria dos carros apenas com o condutor como ocupante.
Que mensagem passamos nós para quem nos governa com isto tipo de comportamento ?

Exigimos mais e melhores Escolas públicas, mas a classe média remediada (que tende a acabar vertiginosamente) empenha-se até ao tutano para colocar os filhos no Colégio A, B ou C.
E mesmo aqueles que têm os filhos no Ensino público, quantas vezes por ano se deslocam à Escola dos filhos ? quantas vezes participam activamente na relação que deveria existir Escola-Família ?
Que mensagem passamos nós para quem nos governa com isto tipo de comportamento ?

Queixamo-nos dos elevadíssimos preços dos bens alimentares, mas os cafés e pastelarias estão à pinha logo pela manhã com gente a tomar o pequeno-almoço fora de casa ?
Que mensagem passamos nós para quem nos governa com isto tipo de comportamento ?

Mais, muito mais haveria para apontar relativamente a todo este tipo de comportamento que urge corrigir na nossa sociedade, porque não basta protestar, há que agir de forma a que o nosso protesto seja legítimo e possa ter o peso que se pretende junto de quem governa.
São pequenos passos que teremos de ir dando rumo a um desenvolvimento social e humano que nos conduzirá, no futuro, a uma melhor e mais justa sociedade.

E por fim, não queria deixar de salientar o comportamento que mais me custa observar no Povo Português e que, esse sim, não pode continuar a acontecer sob pena de jamais nos reerguermos deste cenário de crise.

Exigimos melhores políticas. Exigimos políticas mais justas e honestas. Exigimos políticas que conduzam ao desenvolvimento do país, mas depois, quando chamados a votar, continuamos a dar votos àqueles de quem reclamamos.
Que mensagem passamos nós para quem nos governa com isto tipo de comportamento ?

11 comentários:

  1. Ó Eduardo pelos vistos aí para os lados de Lisboa ainda há "pastel" para gastar... é que por cá e pelo que vi hoje está tudo às moscas! A rua deserta em relação ao que costumava ver... Vamos a ver e só nas metrópoles ainda há quem esbanje!
    Ainda hoje também li no jornal i que a Irlanda está com o FMI há seis meses e as ruas de Dublin parecem as ruas de Bucareste.
    Espera mais uns mesitos e vais ver a desolação em que essas cidades se vão transformar! Até lá ninguém te ouve, pois como anda mais de metade dos portugueses alienados... Ainda hoje disse ao Miguel que não queria estar no lugar dessa gente alienda! Vão ter cá uma surpresa...
    Depois tenho estado a seguir online a Plaza del Sol em Madrid... e cá? ninguém se manifesta?! e eles lá com cravos vermelhos em solidariedade com Portugal!...

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  2. Minha boa amiga Fada, estás coberta de razão.
    Infelizmente parece que de facto as pessoas só vão acordar para a realidade quando a queda total for inevitavel e irreversível.
    Nessa altura, depois, se calhar, vamos assistir a excessos que eram evitaveis se se começasse já a agir de forma consciente e com maturidade cívica.

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  3. Eduardo, finalmente chegaste ao ponto: responabilidade colectiva, não há inocentes nesta história. Uns mais que outros, é certo.
    A somar aos teus exemplos: apesar do custo dos combustíveis, parece-me que são poucos os que estão disponíveis (por opção própria) para reduzir a velocidade na auto-estrada, com a poupança significativa que se conhece.
    Não dá jeito, é mais fácil ....
    (páro por aqui)

    um abraço,

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  4. Paulo, os exemplos que poderiamos dar eram muitos, mesmo muitos.
    Mas isso só reforça a minha crença e a minha convicção que o caminho a seguir para se atingir essa maturidade democrática e cívica é o caminho das políticas de esquerda.
    Porque o resultado das políticas praticadas pelo PS, PSD e com o CDS a tiracolo, é este que observamos e que nos afasta cada vez mais dos objectivos que visam um país melhor, mais evoluido e capaz de proporcionar bem estar ao seu Povo.

    E digo isto porquê ?

    Porque o comportamento dos Povos está intimamente ligado às práticas políticas vigentes.
    As pessoas comportam-se de acordo com a Educação que lhes é ministrada e de acordo com o que os governos estimulam ao nível dos comportamentos sociais.

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  5. Ui Eduardo! ontem estive a ver no canal História na net, um programa sobre o Terrorismo que os EUA levaram a cabo na Europa, na 2ª metade do séc XX, para criar tensão de massas e especialmente culpar a Esquerda política. Esse bicho papão ainda está a fazer estragos. E refugiam-se na Direita, sem saberem que têm o tavistock Institut à perna! vai ao youtube e pesquisa este instituto...

    «A Operação Gladio consistiu numa operação secreta americana na Europa Ocidental que recorreu a redes clandestinas ligadas à NATO, à CIA e aos serviços secretos da Europa Ocidental durante o período da Guerra Fria, chamadas células «stay-behind». Implantadas em 16 países da Europa Ocidental, essas células visavam (supostamente) deter a ameaça de uma ocupação pelo bloco do Leste e estavam sempre prontas para ser activadas em caso de invasão pelas forças do Pacto de Varsóvia. A mais famosa foi a rede italiana Gladio.

    A rede clandestina internacional englobava o grupo dos países europeus que pertenciam à Nato: Bélgica, Dinamarca, França, Alemanha, Grécia, Itália, Luxemburgo, Holanda, Noruega, Portugal, Espanha e Turquia, bem como alguns países neutrais como a Áustria, a Finlândia, a Suécia e a Suíça.

    No entanto, o seu verdadeiro objectivo era espalhar o terror e criar um clima de tensão permanente na Europa Ocidental. Entre os muitos actos de terrorismo que lhes são atribuídos, destacam-se:

    - O atentado bombista dentro do Banco Nacional de Agricultura, na Piazza Fontana da cidade de Milão, em Itália, a 12 de Dezembro de 1969, que matou 17 pessoas e feriu 88.

    - O atentado bombista de Bolonha – uma bomba explodiu na estação central ferroviária de Bolonha, em Itália, a 2 de Agosto de 1980. Morreram 85 pessoas e 200 ficaram feridas.

    - Os massacres de Brabant, na Bélgica, que decorreram entre 1982 e 1985 e nos quais morreram 28 pessoas e outras 20 ficaram feridas.

    - O atentado bombista na Oktoberfest de Munique, na Alemanha, a 26 de Setembro de 1980, onde morreram 13 pessoas e 201 ficaram feridas, 68 com gravidade.


    Há dias, algo inexplicavelmente, o Canal História trouxe a lume, apresentando provas bastante consistentes, esta exposição do terrorismo americano contra cidadãos europeus ocidentais em solo do velho continente.»

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  6. Endereço para a reportagem:
    http://vimeo.com/22815663

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  7. Tenho muitas dúvidas que se trate de um problema esquerda/direita, ou lá o que isso é.
    Direita ou esquerda, o problema é sempre dos outros nunca é meu.

    (vejo-ne aflito para colcar aqui um comentário)

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  8. Não Paulo... é mesmo questão de atraso civilizacional!... Agora, que os esquerdistas têm a fama de "anarquistas" e não tiram o proveito, isso também é verdade. E anarquismo não é de todo sinónimo de falta de Educação e de Princípios.
    Vê-se aflito porque o blogue não anda, não é verdade? parece que empanca! :)))

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  9. Fada, mas também os há destros, não?
    :)))

    empanca e não é pouco!

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  10. Fada e Paulo, eu ponho a questão em termos de direita e esquerda, sim !
    Os Povos têm as suas idiosincarsias em termos comportamentais e culturais, mas quem molda, ao longo dos anos, esses comportamentos são precisamente as acções políticas.

    Chamem-me lirico, ou utópico, mas eu acredito, e continuarei a acreditar que é através das acções políticas de quem governa que se faz avançar ou regredir um país, não apenas em termos económico-financeiros, mas também, e sobretudo, em termos comportamentais, sociais, no fundo em termos educacionais.


    Mas que raio de empancanços serão esses ? eu não alterei nada nas definições do Blogue.

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  11. Quando as pessoas votarem nos seus próprios interesses... tudo será diferente em todos os aspectos...

    Um abraço.

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