A Greve de Transportes do passado dia 2 de Fevereiro foi, assuma-se com frontalidade, um fracasso no que à luta sindical diz respeito.
E como em tudo na vida, também aqui a culpa não morre solteira.
Diria mesmo que, tal como tudo o que de mau acontece em Portugal nos últimos tempos, há uma Troika culpada pelo insucesso desta greve.
Essa Troika, causadora de tamanho insucesso, é composta primeiro pelos Patrões, depois pela UGT e por fim, por mais que me custe admitir, pela CGTP-IN.
Vamos por partes.
Na base do problema estão, principalmente, os Patrões, que pela sua postura autoritária e fascizante, resguardados e apoiados que se encontram, cada vez mais, em leis laborais que lhes permitem tratar os empregados como meros números, numa equação que eles raramente sabem resolver, enveredarem pelo caminho da ameaça, pelo caminho dos processos disciplinares, em suma, pelo caminho do prepotente "eu quero, posso e mando".
Depois, na hierarquia da culpa do fracasso desta greve, que me parece ser apenas o primeiro de muitos, surge inevitavelmente a UGT, que duma forma cada vez mais despudorada e assumida, se revela como o verdadeiro braço armado do patronato no âmago do movimento sindical nacional, assinando acordos que fragilizam cada vez mais a capacidade negocial dos trabalhadores e desequilibrando de forma irremediável a relação de forças que devia nortear e presidir a luta sindical contra um patronato cada vez mais desumanizado e agressivo.
Pior que um povo não informado, somente um povo mal informado, como é, infelizmente, o nosso caso. Se fosse efectuada uma sondagem junto dos trabalhadores Portugueses, onde lhes fosse inquirido o que é a UGT, ou o que é a CGTP-IN, o que é que as centrais sindicais fazem, e que princípios políticos e sociais cada uma destas entidades defende, rapidamente se chegaria à conclusão que, uma quase esmagadora maioria dos trabalhadores nacionais está muito mal informada em relação a esta matéria e que, na dúvida e no desconhecimento, tende a meter tudo (UGT e CGTP-IN) no mesmo saco e a pensar que "esses gajos são todos iguais".
E é precisamente sabendo disto que o duo Patronato-UGT fomenta cada vez mais, de forma premeditada e através dos seus últimos comportamentos e decisões, uma descrença generalizada na opinião das pessoas relativamente à luta sindical.
Resta-nos, para uma luta sindical verdadeiramente justa e norteada pelos princípios democráticos e de justiça social que se impõe, a CGTP-IN.
E porque é que no início do post eu incluo a CGTP-IN na Troika dos culpados do insucesso da última greve dos transportes ?
Porque é cada vez mais evidente a falta de inovação nas formas de luta que a CGTP-IN leva a cabo.
Apesar de ser composta, na sua generalidade, por pessoas que defendem e que lutam de forma digna, honesta e com muito sacrifício pessoal e familiar, a verdade é que neste jogo do gato e do rato com o patronato a CGTP-IN tem-se deixado atrasar.
Esta luta CGTP-IN-Patronato, assemelha-se muito à luta que se trava nas últimas décadas entre os criadores de vírus informáticos e as empresas de desenvolvimento de softwares anti-vírus, com as últimas a limitarem-se, na maior parte dos casos, a reagirem ao avanço que levam os "piratas" criadores dos vírus.
Assim tem sido, de facto, esta luta Patronato-CGTP-IN, com os primeiros movendo toda a sua enorme influência junto dos governos, criando leis laborais que oprimem cada vez mais a classe trabalhadora, e dotando-os de ferramentas de pressão que lhes permite facilidade nos despedimentos sem justa causa, processos disciplinares sem base de sustentação, entre outros.
E perante isto, a CGTP-IN tem continuado a lutar com as mesmas armas, e com as mesmas estratégias que tem usado ao longo dos últimos 35 anos.
É uma luta desigual e onde os pratos da balança pendem, cada vez mais e de forma acentuada, a favor do patronato.
Há imenso a fazer e a melhorar por parte da CGTP-IN e dos seus sindicatos no sentido de inverterem este estado de coisas.
Deixo aqui, apenas, 2 exemplos/ideias que me parecem ser dos mais evidentes e que mais rapidamente poderiam criar outra dinâmica na luta sindical.
Em determinada altura da sua vida um trabalhador decide juntar-se à luta sindical, e automaticamente o que acontece é que ele é "recrutado" para tarefas de acção sindical junto da sua área profissional.
Isto é, se se tratar dum trabalhador dos transportes irá actuar ao nível da distribuição de panfletos, de piquetes de greve e de outras tarefas dentro da sua empresa, ou junto de outras do mesmo ramo.
Ficando dessa forma identificado, desde logo, pelo patronato e tornando-se assim um alvo mais fácil de ser abatido, em especial agora com as novas regras que a lei laboral permite.
Se um trabalhador pertencer a uma Comissão de Trabalhadores, aí, claro está, ele será sempre identificado internamente como um sindicalista junto do seu patronato. Mas a luta sindical faz-se, ou deve fazer-se, muito para além das Comissões de Trabalhadores, e uma das inovações que os sindicatos deverão implementar é a possibilidade de colocar aqueles que aderem à luta sindical a desenvolverem tarefas em sectores onde a sua identificação seja dificultada ou mesmo impossibilitada. Coloquem-se os metalúrgicos na luta à porta dos bancos, coloquem-se os bancários na luta à porta dos transportes, coloquem-se os trabalhadores dos transportes na luta à porta das construtoras, e assim por diante.
Muita gente hoje se sente impelida a aderir à luta, mas rapidamente se desmobilizam porque sentem temor, mais que justificável, por assumirem de peito aberto essa luta no seu local de trabalho. O patronato rodeou-se de leis que lhes permitem eliminar facilmente quem os combata, e como tal, cumpre aos sindicatos, e aqui refiro-me em particular aos da CGTP-IN, porque da UGT não se pode esperar mais que não seja pulhice e compadrio com o patronato, inovarem essa luta, criando condições para que aqueles que queiram aderir o possam fazer de forma mais descontraída e com menos receio.
Uma segunda sugestão que gostaria de aqui deixar era a que se incentivasse, cada vez mais, a utilização da Greve de Zelo como uma forma de luta que é, quanto a mim, extremamente eficaz.
Com a crise que se vive, a maioria das pessoas pode ter muita vontade de aderir a uma greve, mas a perda dum dia de salário, numa altura em que as necessidades são cada vez maiores, inibe muitos a aderirem a essa greve, o que é legitimo, diga-se.
Apresentar-se ao trabalho e não produzir, é um verdadeiro 2 em 1, não só dá força à luta sindical como ainda constitui um verdadeiro golpe nas "partes baixas" dum patronato que vê o lucro como objectivo único.
Embora aqui, também se deva ter, actualmente, cuidados redobrados com a nova legislação laboral.
Muitas mais ideias poderão e deverão ser introduzidas na luta sindical, sob pena de, não o fazendo permitirmos, de vez, a instalação duma ditadura financeira que se começa a revelar muito mais feroz e corrosiva que as antigas ditaduras a que o Mundo assistiu.