O assunto que me leva a escrever este post é, a meu ver, de tal forma importante e relevante que, mesmo apelando à minha maior capacidade de síntese, acabou por sair este “lençol” que abaixo vos deixo. A verdade é que para expor correctamente a minha opinião sobre esta matéria era impossível fazê-lo por meias palavras e deixando muito por dizer.
A actual visita Papal a Espanha reveste-se, juntando todos os acontecimentos ocorridos até ao momento, dum carácter verdadeiramente revelador e que ajuda a melhor entender aquilo que é e que tem sido a história da Igreja Católica e do seu posicionamento perante o Mundo e os seus Povos.
Numa altura de profunda crise mundial como aquela que vivemos, têm sido constantes as aparições de Padres, Sacerdotes e até mesmo do seu Sumo Pontífice a apelar à caridade, á fraternidade e à ajuda ao próximo, como formas de se ajudar a combater e a mitigar a pobreza e a fome que grassam, cada vez mais, em todo o Mundo.
A verdade, porém, é que as acções da Igreja Católica estão longe de corresponder ao seu próprio diálogo e entram mesmo em contradição com este.
Numa altura em que a Espanha (assim como Portugal no ano passado, mas foquemo-nos por ora na Espanha) atravessa uma situação delicada em termos económicos, a IC (Igreja Católica) decide fazer uma visita a este país e, claro está, ás expensas do Governo Espanhol.
Aqui ficam, desde logo, bem patentes três situações inaceitáveis :
1º Apesar da fortuna colossal (e aqui o termo é bem empregue) que sempre caracterizou e reinou na instituição religiosa que é a IC, esta continua a viver, faustosamente, do “dízimo” alheio.
2º A forma como Estados Laicos se vergam perante as exigências da IC é, só por si, revelador da forte influência que a mesma ainda exerce nas governações desses países. Nem todos os Espanhóis são católicos, mas é com o dinheiro dos impostos de todos eles que esta, e outras viagens, são pagas.
Não creio que as visitas de líderes de outras religiões também tenham sido, ou venham a ser, suportadas pelos governos laicos como é o caso do Espanhol.
3º As visitas Papais são, sem qualquer sombra de dúvida, as maiores acções de merchadising a que o mundo assiste hoje em dia, e o mais incrível é que a IC é a única instituição no mundo que o faz de forma totalmente grátis.
Outro aspecto que convém realçar relativamente a esta visita Papal tem que ver com as querelas que daí resultaram anteontem e ontem na Praça Puerta del Sol, e com o tratamento diferenciado que foi dado aos fiéis católicos relativamente àqueles que se manifestaram contra a visita Papal.
Durante a tarde e início da noite, a referida Praça foi-se enchendo de fiéis que assim pretendiam manifestar o seu contentamento e alegria pela visita Papal, e quando isso aconteceu as forças de intervenção não foram chamadas ao local. Mais tarde, também de forma ordeira e pacífica, a mesma praça foi acolhendo milhares de pessoas que pretendiam assim manifestar o seu descontentamento e discordância com a referida visita Papal, mas aí, as autoridades competentes solicitaram a intervenção policial com vista à retirada daquela praça, daqueles que se manifestavam pacificamente (realço que foi sempre de forma pacífica, e que os únicos actos de violência foram praticados pelas forças policiais, não se tendo verificado algum confronto entre os manifestantes e os fiéis e não tendo sido registado nenhum ferimento entre os fiéis ou forças policiais, o mesmo não acontecendo em relação aos manifestantes que sofreram vários ferimentos) contra a visita do Papa.
Não contente com todo este triste cenário, e ao invés de tentar pôr alguma água na fervura eis que, no seu discurso de ontem, o Sr. Ratzinger opta por um
discurso duro, e pejado de inaceitáveis críticas aos não católicos. Um discurso que terá sido, não tenho dúvidas nenhumas disso, o mais inquisidor discurso da IC desde os tempos da famigerada Inquisição.
Um discurso carregado de ódio contra os Ateus, e onde o Papa apela, de forma clara e veemente, a que os fiéis deixem de pensar pela sua própria cabeça e passem a obedecer de forma cega e acéfala ao que a IC os manda fazer.
É no mínimo deplorável que o mundo tenha ontem assistido a tamanhas atrocidades proferidas pelo Papa Bento XVI, e mais deplorável ainda, que os órgãos de comunicação social, sempre tão ávidos de notícias escaldantes, passem (de forma evidentemente concertada) ao lado destas palavras, não lhes dando a atenção e o destaque que as mesmas mereciam.
Se a tudo isto juntarmos, aquilo que também ainda não vi referido em nenhum órgão de comunicação social, que é o mais profundo silêncio da IC relativamente aos recentes atentados ocorridos na Noruega, perpetrados por um individuo que se declarou como Fundamentalista Cristão, e que afirmou que o motivo dos seus actos se ficou a dever ao seu ódio contra os impuros (no caso, os não católicos), fica bem claro que, para a IC, o actual cenário de crise económica, social e humanitária em que o mundo mergulhou, se tornou num terreno fértil para tentar recuperar o seu poder e influência sobre as populações, já não se coibindo de mostrar, até pelas palavras proferidas ontem pelo seu representante máximo que, caso lhes seja permitido, a ressuscitação dos tempos da Inquisição estará para breve.