Orgulho. Eis um sentimento que evito a todo o custo e que me causa grande repulsa, o que me deixa, uma vez mais, em verdadeiro contra-ciclo com a sociedade actual e o seu modo de viver, o seu modo de estar.
Se alguém fez algo que lhe trouxe algum reconhecimento, lá surge, alto e bom som, a famosa frase “orgulho-me muito de ter feito isso”.
Se o filho entrou para Medicina, lá está, “tenho muito orgulho no meu filho”.
Se o seu clube de coração ganhou o campeonato, lá vem, “tenho muito orgulho em ser do …”.
A simples necessidade das pessoas manifestarem o seu orgulho a terceiros é, só por si, o sinal mais claro e evidente de que há ali uma grande e desmesurada dose de vaidade, uma grande e desmesurada necessidade de afirmação pessoal e social e de superiorização em relação aos demais.
O orgulho é, por isso, a mais básica forma de demonstração de vaidade, de inveja e tentativa de superiorização sobre o seu igual, e isso é, a meu ver, uma das características mais negativas que podemos ver no ser humano.
Vivemos hoje numa sociedade de vaidades, numa sociedade de imagem, numa sociedade onde o “parecer que” vale mais que o “ser”, quando o objectivo principal devia ser o da satisfação, da alegria e da vontade de progredir e fazer progredir, movidos por aquilo que efectivamente somos, e não por aquilo que gostaríamos que os outros pensassem ou imaginassem que somos.
Se alguém fez um trabalho que lhe trouxe reconhecimento, o seu primeiro sentimento deveria ser o da satisfação e da realização pessoal por tal feito, e nunca a necessidade de correr a gritar ao mundo “olhem para mim, foi eu que fiz isto. Tenho muito orgulho nisso”.
Se o filho se tornou Médico, ou um génio da Ciência, ou seja lá o que for que lhe traga conforto e qualidade de vida, a alegria dos pais deveria ser o sentimento dominante, deveriam sentir a satisfação plena do dever cumprido. Mas não, a primeira coisa a fazer é pedir ao filhinho o diploma de curso para emoldurar e colocar no hall de entrada para que todos os que lá vão a casa sejam imediatamente bombardeados com o orgulho daqueles pais.
É triste que uma sociedade inteira troque os mais nobres e reconfortantes sentimentos, como a alegria, a satisfação, a realização pessoal, no fundo o prazer de viver, pela necessidade exacerbada e extrema de se mostrarem, de se evidenciarem, de se superiorizarem aos demais.
E talvez isto, esta pequena curiosidade linguística a que aqui me refiro e que esconde por detrás de si mesma toda uma cadeia de sentimentos e de formas de ser e de estar, ajude a explicar o porquê de termos chegado ao triste estado de fraco desenvolvimento cívico, social e humano a que chegámos.
Os conceitos são sempre complicados de avaliar...Não tenho pruridos com a palavra orgulho...Sobretudo na terceira pessoa...
ResponderEliminarDepende da entoação:)
Talvez por ser uma frase meramente comum nunca lhe dei mais importância do que determinadas frases merecem. Podem usá-la pejorativamente ou até com um sentido de orgulho próprio da primeira pessoa, mas para mim não me diz nada.
ResponderEliminarO teu reparo faz todo o sentido porque existem por aí pessoas que querem evidência a todo o custo.
M(ezinha), a entoação poderá até ter aqui a sua relevância, assim como o hábito.
ResponderEliminarEu por exemplo, dou por mim a usar a expressão "deus queira", quando na realidade sou tão ateu que já nem em mim acredito, e faço-o por força do hábito.
Mas entoações à parte, a verdade é que me parece que, cada vez mais, se busca algo pelo orgulho, sem se dar valor ao prazer e à alegria que daí deveriam advir.
Luís, o teu comentário deixa-me a certeza de ter conseguido fazer passar a mensagem.
ResponderEliminarBravo Eduardo!! Só a imagem já diz quase tudo.
ResponderEliminarVive-se para as aparências e para o egoísmo social, por muito que isto possa ser contraditório. O resultado de uma má educação baseada no ter e não no ser. Os Valores primordias foram invertidos. Assim podemos ver porque existe tanta violência doméstica e tanta violência nas ruas. O humano deixou de SER feliz desde que passou a TER e não há mais que possa dizer... ou então, nunca mais daqui saíria.
Claro que a caixinha mágica é o instrutor para tais comportamentos e quanto mais divulgada e arreigada aos costumes dos homens, mais infeliz os torna. Agora têm una bitola pela qual se podem medir!
Vê lá o "tasco": http://marecinza.blogspot.com/
Assim como nenhum leão se vê gato
ResponderEliminarnenhum gato se devia ver leão
Acho que mais que vaidade
é um não reconhecimento das limitações
e falta de humildade (que desapareceu como valor, ao lado de outros)
Fada, a caixinha mágica tem sido de facto a grande aliada deste empobrecimento humano que nos leva ao empobrecimento financeiro.
ResponderEliminarQuanto ao tasco ... ó minha querida amiga, sê bem vinda, de novo, a estas lides. Já lá estou como seguidor e já consta aqui da lista de Blogues.
Força aí !
Ora nem mais Rogério, é (também) tudo isso que diz.
ResponderEliminarEduardamigo
ResponderEliminarDe boas intenções... O problema, o grande, não me arrisco a dizer o único, é o das pessoas não saberem viver com elas próprias; se o fizessem também sabiam viver com as outras, também sabiam que a sociedade não é um enxame, um cardume - ou uma lata de sardinhas.
A ser assim, ter orgulho de si mesmo é intrinsecamente bom; ter orgulho em alguém ou em algo que se construiu é igualmente bom; divulgá-lo, publicitá-lo, ostentá-lo, usá-lo, enfim, como arma de arremesso éké o diabo...
Não obstante, quando eu escrevo e digo que sou um dos melhores, quiçá mesmo o melhor do Mundo, não se trata de orgulho nem de propaganda. É porque sou mesmo... Comigo, a modéstia é canja rsrsrs
Abç
Nem ao mesmo o orgulho de ser benfiquista?...
ResponderEliminarUm abraço.
Henriqueamigo, ora aí está um bom exemplo.
ResponderEliminarVªExª quando afirma que é o melhor escritor do Mundo, fá-lo com base na certeza, não só sua mas generalizada, de que está apenas, e tão só, a dizer a maior das verdades, e isso, como é obvio, jamais constituirá acto de orgulho.
p.s.
(mas que raio, contigo sai-me sempre um p.s., que é coisa que me custa mesmo a escrever)
Já mandei o teu comentário para a Academia Sueca. Para o ano, o Saramago vai deixar de ser o único com a "estatueta".
Fernando, aí é que a porca torce o rabo, porque onde começa o Benfica acaba (boa parte da) minha racionalidade :-))))
ResponderEliminarADENDA
ResponderEliminarEduardamigo
Não te amofines com essa do PS. Se fosse PSD (Passos Sacana Demais) ou PP (Partido do Pa..., ops, Portas) era-te mais difícil, tenho a certeza.
E agora UMA ORDEM: Então eu tenho uma intervenção sobre o xeque-mate a Goa, Damão e Diu, reflectindo o estrondoso e fabulástico hesito, i.e, êxito da minha faladura oportunamente feita - e tu não dizes puto!?!?!? Vai lá IMEDIATAMENTE!!!!!!!!!!!
Apesar do pesar, abç.
PS - (vês que não custa nada) A Academia é a de Alcochete?
Orgulho, vaidade, presunção... são características humanas interessantes para serem debatidas.
ResponderEliminarQuando um filho estuda medicina e se torna médico, isso é bom. Sinal que a pessoa é dotada de capacidades várias para prosseguir esta vocação.
Porém, se o filho, para além de médico, se tornar num profissional competente, humano e isento de vaidade e presunção, aqui sim; diria que é óptimo e qualquer pai ou mãe terá motivos para sentir orgulho neste filho. Muitas vezes, é o título, o status, que se valoriza em detrimento da parte humana e é isto que eu não acho certo.