6 de setembro de 2009

Comboio, o futuro.

A aposta definitiva numa rede ferroviária abrangente e devidamente estruturada, que “rasgue” o País de Norte a Sul e de Este a Oeste, tarda a aparecer em Portugal.
Portugal investiu e muito, e neste momento até demais, em auto-estradas.
Foi importante dotar o País desta rede de auto-estradas, é um facto indesmentível. Portugal apresentava aí um atraso significativo e que era gerador de gravíssimos problemas de deslocação de pessoas e bens, com as consequentes agravantes sociais e económicas que dai advinham.
Mas o capítulo auto-estrada está esgotado. Portugal precisa agora, e a meu ver, urgentemente, duma rede ferroviária que lhe permita servir o Pais de forma a inverter uma série de factores desequilibrados, quer sociais bem como económicos e até mesmo estruturais.
É cada vez maior a desertificação do interior Português, e esta situação tem de ser analisada como deveras preocupante, não apenas pela grave situação social que isso constitui, mas também pela forma, diria mesmo estúpida, como se esbanjam os enormes recursos e potencialidades que esse mesmo interior, de sul a norte, possui.
Temos um País cada vez mais desequilibrado e a tombar a “Oeste”, as grandes cidades, todas elas próximas da nossa linha costeira, estão esgotadas, os recursos naturais que circundavam estas mesmas cidades têm sido dizimados e com isto têm-se cometido crimes ambientais violentos e imperdoaveis. Há excesso de população nestas cidades, e isso acarreta uma série de problemas gravíssimos sob o ponto de vista social. Ao invés, o interior desertifica-se e intensifica-se o crescimento duma população idosa, normalmente, doente, de baixos recursos económicos e, consequentemente, também aqui, geradora de gravíssimos problemas sociais.
Portugal é um País estreito, com cerca de 200 Km’s de largura em grande parte do seu território. Não será por isso muito difícil de ver que o comboio se constitui como o principal factor de esbatimento destas assimetrias entre o interior e a nossa zona costeira.
Uma linha férrea moderna e a funcionar em condições, e nem estamos obviamente a falar das loucuras do TGV, poderá colocar pessoas e bens, em cerca de 1 hora a hora e meia entre as grandes cidades e o interior do País.
O actual desequilíbrio que se verifica potenciou, entre muitos outros factores negativos, uma desmesurada especulação imobiliária nas zonas das grandes cidades, com as consequentes dificuldades que isso produz nas condições de vida das suas populações. Um País onde a rede ferroviária viesse cativar as pessoas a passarem a viver em zonas mais interiores traria, logo de imediato, melhorias nas suas condições de vida, ao poderem adquirir habitações que, com o mesmo grau de qualidade, custariam certamente muito menos que nas grandes cidades.
O crescimento populacional no interior, atrairia para o mesmo, inevitavelmente, investimento em infra-estruturas e negócios que servissem as necessidades daqueles que agora lá passariam a viver. Teríamos pois, um aumento no número de empregos na zona interior e uma, cada vez maior, fixação da sua população jovem, mitigando assim, e de forma gradual, um dos seus maiores problemas da actualidade.
Nas grandes cidades teríamos, consequentemente, um inevitável decréscimo populacional, diminuindo assim aquele que constitui hoje em dia o seu maior problema, e assim, também, um melhoramento do seu tecido social.
Estaríamos pois, perante um País muitíssimo mais equilibrado, com uma cada vez maior sustentabilidade e com índices de crescimento superiores.
E tudo isto, com base no desenvolvimento do nosso atrasado sistema ferroviário, que teima em continuar um verdadeiro, “pouca-terra, pouca terra, buu buu”

6 comentários:

  1. Anónimo7/9/09

    Concordo contigo, mas tendo em conta que estamos em Portugal, será que as pessoas abdicam do transporte próprio para viajar de comboio, sabendo-se que o automóvel é um símbolo social, neste país de vaidades ocas? E depois, repara, que a viagem de comboio entre Lisboa e Porto é mais cara que por expresso, o que me parece um disparate. Eu diria mesmo que se toda a gente que viaja para Madrid de carro estivesse disposta a fazê-lo de comboio, até o TGV se justificaria sem qualquer dúvida. O problema deste país, para mim, continua a ser a mentalidadezinha do português. Todos os jovens deviam ser "obrigados" a passar um ano num país estrangeiro, para desemburrarem.

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  2. Tens razão Rui, mas melhor que mandá-los para o estrangeiro, era importar do estrangeiro modelos de ensino adequados, que educassem e ensinassem as novas gerações a comportarem-se de forma civilizada.
    Gastaram-se os fundos Europeus em autoestradas, mas esqueceram-se do mais importante, que é a educação.

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  3. Apesar da importância, e necessidade, da rede ferroviária, o aspecto cultural de que fala o Rui é crucial.
    O aumento dos combustíveis "empurrou" muita gente para os transportes públicos, mas ao mais pequeno recuo do preço dos combustíveis (e poder de compra) voltou tudo ao princípio.
    Concordo que tudo seria melhor com o reforço do interior (onde me encontro).

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  4. Oh Paulo, podendo, deixe-se ai estar que isso é do melhor.
    Eu só estou á espera que o meu "cachopo" ganhe asas que eu ... zás ! estou ai caídinho !

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  5. Óptimo texto, Eduardo Miguel Pereira, concordo plenamente que urge mudar o "paradigma" dos transportes em Portugal.
    Uma rede adequada de transportes ferroviários, além de diminuir desequilíbrios regionais, a poluição gerada pelos comboios modernos é incomparavelmente inferior à dos automóveis e camiões que circulam por essas estradas foras.
    E penso que não seria difícil que as pessoas preferissem o comboio a outros meios de transporte, desde que a oferta fosse adequada.
    Eu, por exemplo, sempre que posso, opto pelo comboio.
    Chega de auto-estradas!

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  6. Gostei muito do teu post, especialmente da vertente "Este-Oeste". Somos um país muito "estreito" e o comboio podia ligar várias cidades do interior aos pólos económicos como Lisboa, Porto e Coimbra, trazendo vários benefícios. Poderíamos continuar a ter cidades "fortes" do ponto de vista económico no sentido de se afirmarem para o exterior mas núcleos residenciais com muito melhor qualidade de vida, devido à distância (curta em km's mas grande em qualidade de vida) que iria separar o local de trabalho do local de residência.

    Melhor qualidade de vida a um custo mais baixo, levaria a mais rendimento disponível para o consumo e consequente estímulo económico além do aparecimento dos tais negócios nos locais onde as pessoas estavam instaladas bem como a possibilidade de se utilizar as linhas ferroviárias para o transporte de mercadorias (com múltiplos benefícios associados), somando a isto os benefícios sociais directos (menor poluição, stress, etc.)

    Tenho esperança que um dia algum governo leve a cabo um conjunto de estudos/planos que coloque este tipo de ideias de pé.

    Abraço,
    Daniel

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