12 de janeiro de 2010

Obra Prima

Sou um leitor ávido, não tanto quanto o gostaria de ser, porque o tempo consumido com afazeres profissionais, bem como o tempo que considero indispensável alocar à família não me permitem ler todos os livros que gostava de ler.
Ainda assim, já tive o privilégio de ler excelentes obras, que me marcaram profunda e definitivamente.
Já li best-seller (ou bestas-céleres como O’Neill caracterizava boa parte dessas obras escritas ao estilo “fast-food”), já li clássicos, já li livros que praticamente ninguém leu, enfim, acho que já vou tendo uma boa base de leitura e que me habilita à categoria de leitor acima do razoável.
O que ainda nunca me tinha acontecido, até agora, foi ler um livro que à medida que nele avançava ia ficando completamente claro no meu espírito que fazia parte dum grupo restrito de pessoas que estaria a ler em 1ª mão algo que, não sei quando, nem sei se estarei vivo quando isso acontecer, virá a ser considerado como uma obra-prima literária.
Quem me conhece sabe que não sou dado a elogios baratos, que sou exigente e que não me dou bem com a mediocridade.
Quando sou convidado a pronunciar-me sobre algo, seja em termos profissionais, seja na vida privada, seja nas amizades, sou muito exigente, e quando o objecto da análise se situa na minha esfera familiar ou de amizades esse meu grau de exigência tende a aumentar muito mais.
Serve isto para esclarecer que, apesar de ter pelo autor da obra-prima que acabei de ler, uma profunda e já longa amizade, que nos une em metade do tempo das nossas vidas, isso não me tolda a análise e só enaltece o elogio, merecido, que aqui me apresto a fazer-lhe.
Sem mais delongas, refiro-me à última obra do escritor Rui Herbon intitulada “O romper das ondas”.
Este é um dos livros … melhor, este é “o livro”, que mais impacto provocou na minha vida enquanto leitor. No entanto, e pela primeira vez na vida, vi-me incapaz de assumir o papel de leitor neste livro, porque a forma brilhante como o Rui arquitectou e desenvolveu este livro levou-me a fazer parte da história de uma forma em que nunca consegui, de princípio a fim, vestir a pele de leitor. A verdade é que, apesar de não conseguir vestir essa pele de leitor, também, jamais me senti um personagem daquela trama, não sei bem o que seria, senti-me como que um alter-ego que pairava sobre a história à medida que esta avançava.
É também uma obra em que o ritmo não obedece aos cânones literários normais, os seus avanços e recuos e saltos onde não é possível situarmo-nos com precisão em termos temporais, tornam ainda mais fascinante o exercício de, não ler, mas fazer parte da história, enquanto entidade não identificável.
Resumindo, e repetindo-me, nunca como neste livro, tive a certeza de estar perante uma obra-prima.
Obrigado Rui, pela obra, pelo valor acrescentado à cultura Portuguesa, e pelo prazer imenso que é ler-te e reler-te.

Um abraço amigo
Eduardo Miguel Pereira.

5 comentários:

  1. Anónimo12/1/10

    O autor, babado, é que agradece.

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  2. Eu ainda não tive esse prazer; mas o que tenho lido [do Rui] é suficientemente bom para acreditar nas tuas palavras.
    Mas também Vos digo que já fui a 3 ou 4 livrarias, por uma vez já o deixei encomendado numa delas (iriam mandar vir) e até ao momento nada.
    Herbon com H, digo eu.
    (Mas não desisto!)

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  3. Se o amigo Eduardo diz, eu acredito.
    Aliás, a escrita do autor no seu blogue pessoal já deixa adivinhar potencialidades e certezas.

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  4. Eu já o tenho (comprei-o na FNAC do Chiado, em Lisboa – do Ribatejo aqui é um pulinho, Paulo-) mas ainda não consegui lê-lo. Depois de ler este post a vontade tornou-se ainda maior. :)

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  5. Por isso é que não compreendo que aqui não chegue, Analima.-:)))
    Mas tenho de remediar este lapso já longo; se calhar vou mesmo aceitar a sugestão.:)

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